Imagine que você passa viajar o mundo numa tarde, ou durante uma noite. Seria maravilhoso não é? Pois é talvez o vinho seja um dos únicos veículos que pode realizar essa viagem.
Podemos num curto espaço de tempo percorrer a história e estilos que um povo cria, debaixo de suas particularidades e por que não dizer sua identidade.
Quando me propus escrever os artigos com o título ”Personalidades” recorri a um tema que vi na música (outro veiculo que cumpre essa viagem com maestria).
É realmente curioso, mas identificamos características culturais de um povo no vinho que ele faz.
Como já havia dito pense, por exemplo, como identificamos o italiano: ele pode ser alegre, exagerado, moderno, bons perfumes, mas forte e pujante, não te lembra uma descrição de vinho?
Se quisermos, por exemplo, fazer um “tour” por um só país podemos também identificar as sutilezas regionais. Pense num passeio pela Toscana, coração da Itália, o que representa o idioma, que é um dos principais cartões de visita do país, com uma gastronomia internacional, construções medievais, fortes porém elegantes, longevos, agora pense num vinho que representaria essa paisagem: viria o Chianti na sua forma tradicional, ou um Brunello lembrando a modernidade. Agora vá para sul, como a Sicilia, uma região limítrofe, palco de inúmeras disputas entre povos ao longo de sua intensa história, uma terra quente não só pelo calor mas também pela atividade de seu povo, que viveu sob diversos domínios e influencias culturais até chegar à sua história recente que mais uma vez vive um conflito marcante com a presença da Cosa Nostra, a máfia. Podemos assim dizer que esse povo é sofrido, mas forte, que mostra personalidade, mas suas famílias sofrem por não terem uma longevidade (pois muitas se acabaram ao longo dessa história), ainda são alegres, ácidos e cortantes, mas guardam uma certa doçura leve, mas presente. Mais uma vez temos em seus vinhos seus representantes, pensemos num Nero D’Avola tinto seco leve, ou um sobremesa Passito de Pantelleria, doce e aromático, mas leve com boa acidez.
Agora imagine essa viagem pela Argentina, encontraríamos também uma grande semelhança entre seu povo e seus vinhos, enquanto identidade.
O que podemos dizer então sobre os vinhos em uma mesma sala para que ocorresse essa viagem? Que roteiro faríamos? E o que encontraríamos que trilha deveria seguir?
Uma boa maneira de diferenciarmos estilos é pela história: o Velho Mundo (Europa) e o Novo Mundo (Américas, África e Oceania). Podemos dizer que o velho mundo produz seus vinhos segundo sua longa tradição, desde a formação de povo até suas perdas e conquistas enquanto que o novo mundo se estabelece por seu vigor revolucionário, também de formação do povo, das suas conquistas tecnológicas lideradas pelos Estados Unidos e a busca por confirmar sua “nova” identidade. Assim muito especialistas, inclusive eu, consideramos uma justa diferenciação tendo nos vinhos do velho mundo como vinhos de “Terroir” (resultado do que a terra dá) versus vinhos do novo mundo como vinhos tecnológicos (resultado dos avanços e controles na produção). Outras características são marcantes; habitualmente um vinho europeu representa longevidade, vinhos que tem uma vida mais longa e um caráter marcado pela presença de taninos mais longos e normalmente aromas mais austeros onde a presença da madeira é comum, enquanto que o novo mundo produz vinhos mais jovens, alegres com presença de aromas frutados e mais rápidos para o consumo. O que você acha? Poderíamos estar falando de uma visão de mundo?
Pois é o vinho é instrumento cultural fascinante que expressa realmente a vontade e o caráter do povo que o faz.
O Interessante é notar que atualmente os vinhos também são afetados pela globalização e muitos países que deram passos longos nesse sentido (da globalização) começam a fazer vinhos com essa característica, é o caso por exemplo do Chile que tem vinhos modernos e com grande trânsito em diversas culturas. Por outro lado vemos nações substancialmente tradicionais como Portugal que vem buscando uma linguagem mais moderna e acessível a outras partes do mundo, sem contudo abandonar suas raízes.
Acredito que em algum tempo, assim como na política, o vinho se agregará a diversas nações independente de seus destinos, guardando a marca de usa origem.
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