E o Vinho Brasileiro deve Sofrer?


Semanas atrás estive, nessa coluna, falando dos aspectos políticos que envolvem o vinho no Brasil e alguns dos desdobramentos recentes, bem como os que ainda podem surgir.

Retomo esse assunto, pois o tema vem sendo recorrente em todas as reuniões em torno do vinho, como na ultima Expovinis que até bottom de “Sou Contra a Salvaguarda” apareceu por lá.

A repercussão atingiu mesmo o ápice quando Adriano Miolo, principal executivo da empresa Miolo e um dos mais influentes no meio do vinho nacional resolveu dar o pronunciamento oficial da vinícola mediante ao tema Salvaguardas.
Adriano desviou o foco levando a questão para o ambiente totalmente político, alegando que essa foi uma decisão do órgão IBRAVIN (Instituto Brasileiro do Vinho).

Para entender a Salvaguarda no vinho:

Está sendo solicitado junto ao governo brasileiro um aumento, por cinco anos, dos impostos e taxas de importação (praticamente dobrando o atual) para que o segmento de vinho e uva nacional possa se recuperar e desenvolver.


Duas coisas me chamam atenção, nesse momento:
1) Salvaguarda ou proteção de mercado me parece mais uma medida retrógrada que atesta incompetência, exemplifico: cerca de 25 anos atrás trabalhava para uma empresa de aço laminado, segmento que era liderado por estatais e havia um mecanismo semelhante que obrigava os compradores brasileiros comprar o produto nacional, mesmo que ele fosse de qualidade inferior e custando mais caro (que os japoneses, por exemplo). Só se podia comprar se não houvesse similar no Brasil, valia a mesma coisa para produtos eletrônicos. Vocês sabem o que aconteceu depois, essas empresas foram vendidas para o setor privado e elas passaram a disputar o mercado com os produtores internacionais e se adaptaram em produzir o que o Brasil faz de melhor.
2) Assim como não comprei um automóvel nacional Gurgel, não me fio em seu país de produção para escolher um produto, principalmente em uma realidade chamada Global. Sou brasileiro e como tal tenho ampla simpatia pelo que produzimos, mas não devo me comportar como um xiita e defender algo por defender, é necessário avaliar antes de decidir por x ou y e se o Brasileiro for igual, por que não valorizar o produto do meu país?

Devemos avançar e não retroceder, fechar o mercado atrasa tecnologia e emperra a concorrência, essa que faz o preço cair. Isso sim, eu espero que os preços caiam, que se tome consciência que as margens também são muito altas, nesse caso de todos: Nacionais e Importados.

Por outro lado, não posso concordar com a proposta de muitos, de boicotar o vinho nacional, primeiro por que muitos bons produtores como: Adolfo Lona, Angeheben, Chandon, Don Abel, Cave Geisse, Maximo Boschi, Vallontano, Valmarino, Viapiana e Villagio Grando, dentre outros que são declaradamente contra a salvaguarda, também por que não acho que essa seja uma política interessante. Parece que o brasileiro não acorda para fazer o que a maioria dos países faz: simplesmente apoiar o produto de seu país.

É verdade, aqui temos uma inclinação em favorecer o que vem de fora. Esses dias meu irmão em passagem pela França disse que sua esposa foi massacrada ao comentar, em uma mesa de franceses, sobre a qualidade dos queijos italianos, eles simplesmente ignoram os queijos italianos e responderam que a Itália não fazia queijo de qualidade...

De minha parte continuarei bebendo os bons vinhos brasileiros, como os dos produtores acima, da Miolo, Valduga, Lidio Carraro e Don Guerino.
Ainda deixo a dica para os belos vinhos de Santa Catarina, que ganham ano a ano qualidade, como é o caso da vinícola Sanjo que tem em seu vinho Maestrale Cabernet Sauvignon, um vinho sensacional, de qualidade e tipicidade além de muita personalidade, bom corpo. Ideal para acompanhar uma carne vermelha assada.

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