Quando
um casal recebe a noticia que um filho está a caminho, normalmente é aquela
euforia, se for o primeiro, reações das mais diversas...o tempo passa,
descobre-se o caminho do gerar, do cultivar, um desejo de se conhecer o fruto
desse semente. Com o tempo também se vive uma angustia: que nome terá?
As pessoas costumam criar muitos nomes em suas cabeças até escolher um, e nem sempre o resultado cai no gosto das pessoas à volta, porém são sempre justificáveis, aliás, os pais da criança sempre sabem o que estão fazendo...será?
Bom, no vinho o processo é semelhante, muitos acabam por optar pelo tradicional, pelo usual, mas muitos inovam e muito.
Você já deve estar pensando, “é verdade já vi nomes bem absurdos, lembrei daquele português...” Foi o que pensei logo ao ter a ideia de escrever sobre o tema, mas por incrível que pareça, tem dessas em muitos países. Algumas semanas atrás escrevi sobre o vinho francês “Arrogant Frog” ou sapo arrogante, diria que é um nome sutil para um vinho e principalmente vindo de um país reconhecido por sua “finesse” e elegância.
Mas, a lista é bem interessante, nomes como Bigode, Periquita, Pinto, Quinta da Bichinha e muitos outros realmente estão presentes em vinhos portugueses, mas eles também dão nomes bem bacanas, até poéticos como Intuição, Amo.te, Quinta do Romeu, Charme, Conceito, Incógnito. Em outros países também encontramos exemplos como Almaviva, Quimera, Planeta, Rock Selvagem (Wild Rock), Gato Negro e por aí vai.
Evidentemente que o nascimento de um vinho é diferente de um filho, o processo é outro, mas me pego pensando o que passa na cabeça dos produtores ao batizar seu produto. São muitos pontos a se considerar, pelo aspecto do marketing, o público que quer alcançar, posicionamento de preço, imagem, tem a questão do produto em si, se mais encorpado, se raro. Particularmente acredito que na maioria dos casos a escolha é emocional.
Lembro que Angelo Gaja, italiano do Piemonte, um dos mais brilhantes produtores de vinho em todo mundo tem um vinho que foi batizado exatamente por esse aspecto.
Diz a
história que o jovem Angelo, ao passar administrar as vinhas da família, separou
uma parcela para plantar a uva francesa Cabernet Sauvignon, seu pai Giovanni
tradicionalista como todo italiano e principalmente piemontês não acreditava
que poderia haver outra uva além da Nebbiolo (típica da região), ficava
indignado e praguejava dizendo ao filho “desperdício” no dialeto local. Angelo,
no entanto, acreditava na possibilidade e não desistiu mesmo com a forte
torcida contra e em 1978 nascia um dos grandes vinhos da vinícola, que seria
por várias décadas um dos cartões de visita do genial Angelo Gaja.
O nome do vinho? Darmagi, o termo no dialeto repetido diversas vezes pelo pai.
Outro vinho merece destaque, o Má Partilha, elaborado pelo brilhante Peter Bright (sem trocadilhos com o nome) feito 100% com a uva Merlot (pouco comum em Portugal) recebe o nome, pois vem das terras com o mesmo nome “Quinta da Má Partilha”.
A origem? O local que já conhecido como Quinta
do Bom Pastor, recebeu esse nome porque durante muito tempo foi objeto de
divisões por famílias nobres que detiveram a propriedade. Devida à falência de
muitos membros, em várias famílias e gerações as terras foram divididas e em um
momento em face do estado deplorável da propriedade foi batizado de Má
Partilha, uma menção a se ter recebido a pior parte da propriedade. Mal sabiam
que as terras que abrigaram um dos mais portentosos solares da história de
Portugal tinha uma terra abençoada para receber a uva Merlot.O nome do vinho? Darmagi, o termo no dialeto repetido diversas vezes pelo pai.
Outro vinho merece destaque, o Má Partilha, elaborado pelo brilhante Peter Bright (sem trocadilhos com o nome) feito 100% com a uva Merlot (pouco comum em Portugal) recebe o nome, pois vem das terras com o mesmo nome “Quinta da Má Partilha”.
Vinhos: Darmagi – Angelo Gaja, disponível na safra de 2007 por cerca de R$ 1.400,00.
Má Partilha – JP Vinhos, em torno de R$ 170,00
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