Ao longo de muito tempo o Brunello di Montalcino foi o vinho
mais surpreendente que já tinha conhecido.
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Franco e Jacopo Biondi Santi |
Foi graças a essa experiência de conhecer o vinho, o responsável pelo rótulo
mais famoso que também é herdeiro do criador (Sr. Jacopo Biondi Santi) que
percebi o produtor de vinho como um agricultor que se transforma em um artesão
ou um artista. Nos cursos e palestras para exemplificar, desmistificar, tirar
esse caráter elitista, enfim descomplicar costumo dizer que são colonos,
caipiras, pois foi a imagem que esse senhor me passou, diante de toda elegância
da pessoa, do glamour e badalação em volta do seu vinho, havia um homem que
amava as coisas e a simplicidade da terra onde seus vinhos nasciam.
A história da criação desse vinho remonta a primeira metade
de século XIX. Na região que tinha (e tem até hoje) uma estrela chamada
Chianti, produzia por ali a família do Sr. Clemente Santi. Ele decidiu produzir
um vinho de longa guarda, ao redor da cidade medieval de Montalcino, cerca de
40 quilômetros ao sul de Siena, na Toscana (região onde nasceu o Chianti). Sua
decisão estava em buscar um vinho diferente do Chianti, assim pesquisou e
desenvolveu diferentes clones da principal uva da região, a Sangiovese.
O resultado foi a Sangiovese Grosso, ou Brunello (moreninho, em português). Sua
forma é diferente da Sangiovese, desde o formato das folhas e dos cachos, até a
disposição dos bagos e a casca mais grossa, conferindo mais tanino e cor aos
vinhos.
Um Brunello pode chegar muito bem aos 50 anos de vida, porém como veremos mais
adiante, dificilmente encontraremos um vinho de cor vermelha viva.
Por determinação da sua denominação de origem de qualidade
(e garantia – DOCG), o vinho tem que
levar 100% de uvas Sangiovese Grosso (ou
Brunello), chegar a um teor alcoólico mínimo de 12,5% (quase todos tem cerca de
14%) e pelo menos 50 meses de envelhecimento antes de chegar ao mercado. O
vinho passa ao menos dois anos em barris de carvalho, e o restante em garrafa.
Se o Brunello for um "Riserva", aí o período mínimo aumenta mais um
ano, passando para 36 meses em barricas.
A região demarcada produz em torno de 5,8 milhões de litros
ao ano. Suas principais características são de vinhos sérios, encorpados,
complexos, mas muito prazerosos. Graças a esse grande período de guarda antes
da venda, o vinho, chega ao mercado já com cor granada e belos toques de
evolução. Seus típicos aromas típicos de geleia de frutas, musgo, couro, frutas
secas e cristalizadas, defumados, pimenta preta, alcaçuz, baunilha, nos
encantam e por algum tempo o melhor do vinho é saborear esse momento no nariz.
Claro que não é um vinho para o dia a dia (para isso podemos
beber seu jovem Rosso di Montalcino, uma espécie de irmão mais novo), por isso
taças de tamanho maior são bem vindas, pois ampliará seu prazer de beber, bem
como em muitos casos é bom decantar. É um vinho para gastronomia, com carnes
vermelhas e caça, vai muito bem.
Encontramos no mercado, por preços que vão desde os R$ 300 até cerca de R$ 4.000 (para os
excepcionais e os “Riserva”, que só são
produzidos em safras excepcionais).
Na
Wine Brasil (empresa parceira) indico
3 belos exemplares: Gaja Brunello di Montalcino
DOP 2014 - Pieve Santa Restituta,
Brunello Di Montalcino Caparzo DOCG 2013 e o Valdicava Brunello Di
Montalcino 2005.
O Gaja é daqueles produtores incansáveis, explorador dos bons vinhedos e um
artista para produzir verdadeiras obras de arte em vinhos, seus Barolos são
espetaculares e seu Brunello faz parte desse time de estrelas.
(Antonio Galloni 92 Pts / 2013)
O Caparzo é um clássico moderno, mantém as tradições do Brunello porém com um
ar mais moderno, um vinho de taninos presentes, longos e esbeltos. Para ser
bebido um pouco mais jovem, apesar de uma guarda sugerida de cerca de 20 anos.
A família ainda tem o LA CASA, feito em safras excepcional, uma pancada de
estrutura e paladar, um dos melhores que já provei. (Wine Enthusiast 91 pontos)
Já o Valdicava é uma novidade que acaba
de chegar, por ainda não ter provado ficarei com a a bela descrição do
site: “Luxuoso e moderno. Este é um
Brunello de sucesso, com enorme concentração, densidade e intensidade. Bastante
especiaria e madeira, mas sem sobrepor a intensidade natural da cereja e da
amora. O vinho é macio, mastigável e denso na boca". (Wine Enthusiast 93
pontos.)
Vale ainda mais a pena sentir o prazer de beber um vinho tão
interessante, importante, sabendo que é fruto do suor de um caipira!
Alexandre Santucci, escritor,
mentor e palestrante, é o criador do “Descomplicando o Vinho” (Site/TV/Livro e
método). É psicólogo, ator, professor universitário de Marketing, Serviço do
Vinho /Sommelierie e Psicologia/Gestão de Pessoas. Foi responsável pela área de
cursos e treinamentos da maior importadora de vinhos do Brasil.
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