São 7,3 milhões de hectares de vinhas espalhadas pelos dois hemisférios, pelos dados da OIV, agora
México, China, Romênia, Moldávia, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Geórgia, Japão, Peru e Bolivia são países que costumeiramente não estão em nossas mentes quando pensamos em um
país produtor de vinhos, porém a exemplo do que acontece no Brasil com novas regiões como a
Chapada Diamantina, na Bahia,
Espirito Santo do Pinhal em São Paulo,
Andradas em Minas Gerais ou até
São José de Mipibu no Rio Grande do Norte, também produzem vinho e com muita qualidade, graças a tantas inovações tecnológicas e principalmente pelo excelente mapeamento geológico e climático.
O Japão costumeiramente conhecido pelo saquê e até por seu whisky, já tem 4 regiões produtoras e ainda a uva autóctone Koshu (provavelmente uma uva hibrida natural, e o nome que era dado antigamente a cidade de Yamanashi, onde está o principal vale produtor dessa uva) que produz vinhos brancos excelentes já muito procurados mundo afora.
Georgia (Eurasia) entra nessa lista de vinhos especiais, exuberantes, no entanto, a considerada por muitos o berço da produção de vinhos na história, é reconhecidamente um dos países que melhor produz vinhos laranja (aquele branco feito com maior contato com as cascas e semente) dignos de grande apelo pelos consumidores.
O fato é que a qualidade desses vinhos versus consumidores ávidos por novidades garantem um mercado com grande amplitude e expansão, outro fator é que ainda há muitos consumidores que pagam preços mais elevados por vinhos especiais, sejam os tradicionais, consagrados e super pontuados ou extraordinários como esses.
Brasileiros Ávidos por vinhos:
Segundo pesquisa da Wine Intelligence, os brasileiros que consomem vinhos com regularidade, 70% gostam de provar novos tipos e estilos, na Inglaterra esse numero está em 43%, enquanto nos Estados Unidos, chega a 51%. Pela mesma consultoria, o Brasil é o terceiro maior comprador on-line do mundo, atrás de EUA e China.
Revista Veja (ago 2023): Vinhos brancos têm aumento expressivo de interesse no Brasil e no mundo
A preferência é por rótulos que ofereçam frescor e potencial de guarda - (matéria completa) Particularmente me agrada muito termos chegado nesse momento, nesse perfil do brasileiro, mais aberto a provar novidades. Graças a esse comportamento muitos vinhos pouco conhecidos, além das fronteiras tradicionais, vem desembarcando por aqui, através de importadores pequenos que procuram produtos fora da curva e formam nicho para o seu negócio. Dois importadores me chamam atenção; a La Gruta e a Wine7.
Semana passada estive exatamente com um deles, a importadora La Gruta, que em seu enxuto portfólio, com foco em vinhos da Américo do Sul, traz os premiadíssimos argentinos da vinícola SuperUco, os chilenos bem fora da curva como o Aralez e Artdecó, há ainda um brasileiro Pinot Noir (produzido por um dos sócios da importadora em parceria com a vinicola Valparaiso) e os surpreendentes vinhos de Pepe Moquillaza do Perú e Jardin Oculto da Bolívia.
Acompanhei 2 dias de degustações entre os belos cenários do Café Journal, Hotel Rosewood e Feriae, totalizando 10 rótulos, únicos, vinhos com oxidação, de field blend (blends naturais, ou mais de uma uva no mesmo vinhedo), uvas autóctones ou pouco conhecidas, enfim para os que gostam muito de vinho, uma experiência riquíssima e muito prazerosa. Evidentemente não são vinhos para o dia a dia, são vinhos esquisitos (como se diz em espanhol), diferentes, autênticos, mesmo os com uvas conhecidas.
No destaque trouxe dois vinhos:
Quebrada de Ihuanco 2018 | Cañete, Perú - Produzido a partir da uva Quebranta (pé franco) nos vinhedos de Quebranta que fica a 4 km do mar, portanto com alta influência marítima. De coloração vermelho claro tendendo a âmbar, aromas selvagens com singular complexidade, toques de especiarias e frutas secas, na boca tem taninos amplos e uma bela acidez que aquece o paladar, é realmente impressionante.
Esse vinho tem várias curiosidades, é o primeiro vinho natural do Peru, e produz menos que um Romanée-Conti (menos de 5.000 garrafas) foi vinificado e tem passagem (9 meses sobre as borras) em Flexitank, utilizando leveduras indígenas e mantendo contato com as cascas por 60 dias, já a uva em questão é a mesma dentre as que produz Pisco. Outra é que Rubens Barrichello é um apreciador e consumidor frequente deste vinho (saiu muito na nossa frente!).
Cerca de R$ 360 (VQP)
Jardín Oculto Negra Criolla 2020 | Valle de Cinti, Bolívia - Esse tinto exuberante, 100% negra criolla (também conhecida como país ou missiones), com produção reduzidissima (cerca de 1800 garrafas) se apresenta em um vermelho salmon, lembrando muito o Gamay, seus aromas também com notas exuberantes de morango. Fresco e franco, acidez vibrante, na boca a experiência se intensifica, trazendo firmeza de taninos, um toque selvagem, notas de especiarias como a pimenta do reino e mentol.
Esse é um produtor totalmente natural, vinhedos de 200 anos, selvagem. Por ali a filoxera não passou e as vinhas se "criam" nas árvores, a imagem é linda, digna de contemplação. Esses vinhos estão no Gustu, nomeado em 2022 o melhor restaurante da Bolivia e top 50 da América Latina, é uma espécie de DOM, unindo alta gastronomia aos sabores da Bolivia.
Cerca de R$ 430
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