O desafio de criar analogias entre vinhos e cavalos foi muito mais prazeroso que imaginei quando me predispus em realizar esse evento. As ligações possíveis são muitas e posso dizer que vinhos, arte e cavalos andam juntos na evolução humana. Os cavalos tem uma ligação sensorial com o ser humano e é o único animal que possui o movimento tridimensional.
Se o vinho é terapêutico para muitos, controla o stress, ansiedade, além de melhorar a circulação sanguínea, imagine que o cavalo é o único animal que possui o movimento tridimensional como a marcha humana e quando montamos é como se estivéssemos caminhando, movimento semelhante ao do ser humano em em 95%. Essa ligação sensorial e motora é uma das bases da equoterapia que promove coisas incríveis: por exemplo, um praticante da terapia que não anda, ao andar a cavalo, tem a sensação de estar andando com o próprio corpo, estimulando o deslocamento, equilíbrio, coordenação, provocando uma sensível melhora no esquema corporal, facilidade na postura do tronco ereto e tônus muscular; outro exemplo: enquanto montado, o paciente experimenta sensações de liberdade, independência e autonomia, tornando-se mais confiante; é na relação com o cavalo, montado ou não, que são desenvolvidas questões relacionadas à diminuição de ansiedade, controle de emoções, superação de medos e desafios, e o cavalo também desperta o desenvolvimento da afetividade, socialização e maior atenção e concentração.
Não por acaso que as grandes menções históricas do desenvolvimento da vinicultura, seu avanço através de vários territórios, acontece quase que simultaneamente ao manejo de cavalos. Uma correlação bem interessante: os cavalos são distinguidos entre sangue quente e sangue frio e algo semelhante acontece entre vinhos de clima quente e frio, enquanto cavalos de clima quente são ágeis e utilizados para corridas os de sangue frio para resistência, podemos dizer que vinhos de climas quentes produzem muita fruta e deixam a guarda para os de clima frio.
Enfim pude criar essas analogias e apresentar, nesse ultimo dia 25, belos vinhos da Viña Haras de Pirque, do Chile, a uma seleta plateia tão apaixonada por cavalos e vinhos como o produtor.
O evento em parceria com a Beale Bebidas, aconteceu em Ibiúna no Haras Manege Equistar, quando também pude conferir e aprender muito sobre esse universo e principalmente saber do grande trabalho social e pela melhoria da qualidade de vida dos animais que fazem por lá, além de apresentar ao mundo cavalos, amazonas e cavaleiros campeões.
Recebidos com uma taça de Albaclara os convivas entraram no clima para presenciar o que havia preparado sobre essas analogias e também degustar a sequencia: Chardonnay, Reserva de Propiedad, Hussonet e Galantás, deixado para o final, um páreo duro com o anterior.
Viña Haras de Pirque - "Um bom cavalo só mostrará suas qualidades após no mínimo quatro anos de vida, da mesma forma que um grande vinho só se revela após alguns anos de guarda."
Assim propôs Eduardo Matte ao justificar sua paixão por vinhos e cavalos.
Matte adquiriu os 600 ha da propriedade em 1991, mas ela já existia desde 1892 como Haras Blacky, sendo assim o mais antigo haras do Chile. O plantio iniciou em 1992, já no recém batizado Haras de Pirque, resgatando o nome da região onde está localizado. A primeira safra comercial se deu no ano 2000, e em 2002 Piero Antinori, se junta ao projeto para produzir o Albis, um supertoscano no Chile (70% Cabernet/30% Carménère). A enóloga chefe já era a chilena Cecília Guzman, que anos depois se tornaria a gerente geral, após a compra total da vinícola pela centenária (quase milenar) italiana Antinori em 2017, um ano depois da vinícola ter certificado todo o vinhedo como orgânico.
Atualmente os vinhedos de Maipo, são orgânicos e praticamente todos destinados às uvas tintas, quase todos os vinhos são veganos (sem uso de nenhum ingrediente animal em todo processo).
Gran Reserva Galantas 2018 - Nem todos os monovarietais de Cabernet Franc conseguem expressar o melhor dessa uva (que é uma dos mães da Cabernet Sauvignon, junto com a Sauvignon Blanc), esse consegue! De fato é um puro sangue, tal qual o cavalo que dá nome ao vinho. No Chile e em alguns países é possível indicar uma unica uva no rótulo quando ela atinge um percentual de no mínimo 85%, é o caso deste que leva ainda 15% de Carménère e faz toda a diferença. Essa pequena parcela deixou o vinho bem "amigável" e muito potente, são 14 meses de barrica francesa, 14,5% de álcool, tudo muito bem equilibrado, desde sua cor vermelho púrpura intensa, frutas negras ligeiramente compotadas até o paladar intenso, macio e muito elegante. Outro VQP! Cerca de R$ 260
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