TERTÚLIA HISTÓRICA: AS MULHERES NO MUNDO DO VINHO

 

No último dia 28, Natália Batista, doutora em História e sommelière da Bússola do Vinho, comandou sua aula etílica 'Tertúlia Histórica: As Mulheres no Mundo do Vinho', que segundo sua chamada; um encontro destinado ao público geral, independente do gênero e do nível de familiaridade com vinhos, que conta com a degustação de rótulos produzidos por mulheres latino-americanas, porém do gênero masculino a única presença foi a minha, fato que me fez criar muitas reflexões além do próprio encontro.

O tema já chama atenção com sua Tertúlia Histórica, que significa uma reunião de parentes ou amigos, ou uma palestra literária, nesse caso sobre "história" e complementado uma palestra sobre a história da mulher no mundo do vinho. Continua com sua proposta de regar o encontro com belas escolhas de vinhos elaborados por mulheres. 

Dentre minhas reflexões o evento me mostra o quão vastos são os caminhos para abordar o vinho sem que necessariamente seja o tema principal, no entanto participe de forma ampla e generosa, e por falar da forma Natália traz pinceladas históricas sensacionais que ilustram magistralmente o papel ( e as vezes os não papeis) desenvolvido pelas mulheres ao longo do período por ela recortado, desde os egípcios até os dias atuais. A condução é muito bem dirigida, nada cansativo, ainda mais quando começam as degustações, foram 4 vinhos na noite, dois brasileiros da enóloga Janaína Massarotto (Marzarotto BRUT e Pleno Peverella - destaque), e dois argentinos, um de Viviana Catena (Ricominciare) e outro de Susana Balbo (Crios). Um grupo de cerca de 10 pessoas dividiam as impressões não só dos vinhos, mas também das explanações, conceitos, traziam suas experiencias, promovendo um clima amistoso e muito agradável.

No aspecto ainda mais individual me pergunto sempre porque o gênero masculino não participa mais desses eventos, claro que alguns eventos são exclusivos para mulheres, mas os que não são trazem contribuições gigantes para entendermos muito sobre esse universo, sobre toda essa transformação que muitas mulheres estão promovendo.  Sem me prolongar sobre o tema e para voltar aos vinhos, os debates entre mulheres, e gêneros, é muito rico e sob esse aspecto de tantos avanços e o tanto que ainda  precisa ser compreendido, questões estruturais que avançariam muito mais se houvesse a participação mais contundente de todos, como sociedade, como integrantes de uma coisa só, a humanidade.

Voltando aos vinhos, Natália trouxe rótulo de mulheres fortes e com trabalhos muito expressivos. Confesso não conhecia nem os vinhos nem a relevância de Janaína Massarotto, a primeira enóloga brasileira a capitanear uma vinícola e lançar uma linha autoral de vinhos, na sequencia vem o argentino de Viviana Catena, sobrinha do atual proprietário da Bodega Catena Zapata, que resolveu criar seus próprios vinhos após a morte do pai, Jorge sócio e irmão mais novo de Nicolas. Para finalizar Susana Balbo, a exemplo da nossa brasileira é também a primeira enóloga da Argentina, mas não só a ter sua própria vinícola, mas também a primeira enóloga formada, seus feitos foram além dos belos vinhos, politica, ativista pelo papel da mulher no campo e outras lutas envolvendo igualdade de gênero.

Meu destaque fica para o excelente branco produzido pelas mãos de Janaína Massaroto.

Pleno Peverella 2022 - Pleno é o nome da linha desenvolvida para os vinhos tranquilos da vinícola, com rótulos desenhados pela própria enóloga. O vinho branco da uva Peverella se mostra num amarelo palha, com ligeiros tons esverdeados, aromas de frutas tropicais como melão, toques cítricos e de mel, de fato muito elegante e envolvente, no paladar, uma bela acidez e uma leve picância. 

Curiosidade: O nome Peverella vem de pevero, do dialeto vêneto que se traduz pimenta. O nome foi dado graças a uma característica da casca da uva, que possui pequenas pintas escuras que lembram pimenta preta. A uva foi praticamente extinta apesar de ser a primeira variedade branca de vitis vinífera a desembarcar no Brasil junto com os imigrantes italianos no final do século 19. De origem do norte da Itália, a Peverella  tornou-se a principal variedade de uva branca cultivada no Rio Grande do Sul até meados dos anos 1970. Hoje há um intenso trabalho para proteger a variedade que pode ter pés plantados de até 100 anos.
Cerca de R$ 70

Evento: "Tertúlia Histórica: As Mulheres no Mundo do Vinho"
Produzido por Bússola do Vinho
Local: Sacra Rolha Wine Bar


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